A FAMOSA BIP
BIP significa Busca Insaciável de Prazer. A maioria das
pessoas sofre deste mal, muitas vezes sem ter consciência disso. O prazer, seja
o cigarro, a comida, o sexo, a bebida, as drogas, o consumismo, as diversões ou
outro qualquer, funciona como uma fuga dos problemas, dos medos e das angústias
diárias. Quanto mais tensa, medrosa e ansiosa for uma pessoa, mais ela buscará
prazeres para compensar o seu sofrimento interior. É claro que esse processo de
fuga para os prazeres não resolve coisa
alguma, porque todo prazer tem começo, meio e fim e, assim que o prazer – seja
ele qual for – chega ao fim, os problemas voltam e a pessoa quer mais, mais e
mais, insaciavelmente. A dependência do cigarro, do álccol, do sexo, das
drogas, da comida ou de outra coisa qualquer se explica por este mecanismo, que
funciona como uma armadilha, muitas vezes mortal, para muitas pessoas.
COMO LIDAR COM O PRAZER
Não se trata de negar o prazer, nem de evitá-lo, como muitos
fanáticos religiosos tentam fazer – e passam a vida inteira sofrendo e se
angustiando, porque não conseguem eliminar o desejo. O prazer faz parte da
nossa vida e é perfeiotamente saudável, desde que não funcione como uma fuga de
problemas, porque, neste caso, ele passa a funcionar como uma droga, uma
dependência a mais. Não se pode negar o prazer de degustar uma comida saborosa,
de ouvir uma bela música, ou de contemplar um rosto bonito, provar um bom
vinho, praticar o sexo de forma saudável etc. O que é necessário é vigiar para
que a BIP não se torne uma constante em nossas vidas e se torne um vício, uma
droga, tão perigosa quanto outra qualquer. Ao invés de fugir da ansiedade, é
preciso aprender a compreendê-la, conviver e lidar com ela, quer este
aprendizado se faça sozinho ou com o auxílio de outra pessoa.
PRAZER E SOCIEDADE
Como toda força poderosa que existe entre os humanos, o
prazer também é regulamentado pelas sociedades. Em todas as culturas ao redor
do mundo, encontramos ideias e regras bem definidas sobre isso, como “o prazer
deve ser buscado com moderação”, “o prazer é transitório” ou “o prazer deve ser
conseguido naturalmente”. Para incontáveis crenças, a negação do prazer gera
crescimento espiritual, o que não é verdade. Nossos sistemas jurídicos,
religiões e sistemas educacionais estão todos preocupados com o controle do
prazer – basta observar o recente furor no combate às drogas. Nós criamos
regras e costumes em torno do sexo, drogas, alimentos, álcool e até mesmo dos
jogos de azar. As prisões estão repletas de pessoas que tiveram a possibilidade
de desfrutar de prazeres proibidos, ou que encorajaram outros a fazer isso.
MECANISMO CEREBRAL
O fato é que a maioria das experiências transcendentais que
conseguimos em nossa vida – sejam vícios ilícitos ou atividades socialmente
aceitas como a meditação, compras ou até mesmo a caridade – ativam um circuito
distinto de prazer em nossos cérebros. Alimentos calóricos, o orgasmo, jogos de
azar, oração, dança e até jogos online: tudo isso evoca sinais neurais que
convergem para um pequeno grupo de áreas cerebrais interconectadas chamadas de
circuito do sistema de recompensa cerebral, ou o circuito do prazer. São nesses
pequenos aglomerados de neurônios que os prazeres humanos são emitidos. Há, no
entanto, um problema: o circuito de prazer, em que um neurotransmissor chamado
dopamina desempenha um papel crucial, pode ser “cooptado”. As drogas que
implicam um risco de vício, como a cocaína, a nicotina, a heroína ou o álcool,
são viciantes porque atingem os nossos circuitos do prazer. E não são apenas as
drogas que desempenham esse papel viciante nos cérebros. A evolução tem feito
com que nos viciemos por uma grande variedade de substâncias e experiências, do
crack à maconha, da meditação à masturbação, do fast food à carne vermelha e
gordurosa.
O vício (o lado negro do prazer) está associado a mudanças
duradouras nas funções elétricas, morfológicas e bioquímicas dos neurônios e
das conexões sinápticas. Há fortes indícios de que são essas ligações e
movimentações cerebrais do circuito do prazer que desencadeiam muitos dos
aspectos aterrorizantes do vício, incluindo a intolerância (necessidade de
doses sucessivamente maiores para obter satisfação), o desejo incontrolável, os
sintomas de abstinência e as recaídas. A nossa atual compreensão da função
neural, juntamente com as tecnologias que nos permitem analisar e manipular o
cérebro com uma precisão sem precedentes, estão nos dando novas perspectivas
sobre a biologia do nosso cérebro. Analisando a base molecular das
transformações duradouras nos circuitos de prazer do cérebro, será possível, no
futuro, o desenvolvimento de medicamentos e outras terapias que ajudem as
pessoas a se libertarem de muitos tipos de vícios, tanto de substâncias
químicas quanto de experiências. Mas será sempre a consideração psicológica e a
respectiva terapia que produzirão efeitos duradouros, porque medicamentos e
tratamentos externos podem se tornar apenas mais uma forma de intoxicação e
dependência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário